quarta-feira, 26 de setembro de 2012

NÃO HÁ...

























Não há ruas nem vielas
Que não viessem espreitar
Tantos senhores ás janelas
Do poder, a engordar

Não há sonhos ilusões
Nem bocas para lamentos
Mas há quem ás prestações
Vá comprar medicamentos

Não há pão p'ra toda a gente
Nem dinheiro p'ró ordenado
Mas há chão que deu semente
Sem sequer ser semeado

Não há estrelas cadentes
Porque elas foram roubadas
P'rós bolsos de tantas gentes
Em fortunas transformadas

Não há trabalho p'ra dar
Nem verbas para dividir
Mas há armas p'ra matar
E bombas para destruir

Não há sol para aquecer
Tanta barriga a esfriar
Que precisa de comer
E tem contas por pagar

Cortaram no reformado
E na mesada do puto
No pobre do ordenado
Que  nem dá para conduto

Tantos cortes afinal
Com proveito e aldrabice
Fundem, cemitério nacional
Que é p'ra se cortar o mal
Pela raiz da velhice.


terça-feira, 18 de setembro de 2012

SÃO LÁGRIMAS


São lágrimas que eu queria
E não consigo chorar
Da minha alma vazia
E tão cheia como o mar

São horas negras sombrias
Perdidas na escuridão
Na amargura dos dias
Tão presas nela que estão

São palavras afiadas
Em gume que fazem abrir
Feridas engalanadas
Nas arestas do sentir

São sonhos que nunca ousei
Sequer um dia sonhar
Em que agora tropecei
Sem me poder levantar

São águas deste meu rio
Que sempre a transbordar
Embarcaram num navio
Com direito a naufragar

São lágrimas que não choro
Desta fonte ressequida
São horas que não imploro
Os dias que já ignoro
E que me levam a vida.


segunda-feira, 10 de setembro de 2012

HÁ MARÉS


Há marés que me fascinam
Tal como as ondas do mar
E outras que me dominam
Nem me deixam respirar

Há marés que com o pranto
Se vestem de nostalgia
E tapam-se com o manto
Do riso e da alegria

Há outras que são desejos
Que se enleiam no ardor
E fazem duns quantos beijos
Um paraíso de amor

Há marés desgovernadas
Perdidas no vento norte
E fazem de suas nortadas
O vento da sua sorte

Há marés que com o vento
Se perdem na ondulação
E vivem cada momento
Com alma e coração

Também as há tão distantes
E prontas a descobrir
Na doçura duns instantes
A loucura do sentir

E são tantas as marés
Onde me encontro perdida
Que tenho de lés a lés
Amarradas a meus pés
As marés da minha vida.


domingo, 2 de setembro de 2012

SAUDADE


































Sou a saudade à bolina
Do porão do teu sentir
Que na onda pequenina
Te espera ver emergir

Sou a saudade à espera
De ver os dias passar
P'ra quando for Primavera
Eu te poder abraçar

Sou também a nostalgia
Que ás vezes dentro do peito
Me faz sentir a agonia
De uma saudade sem jeito

Sou tantas vezes saudade
De ti e de te não ver
Esqueço que na mocidade
Saudade me fez sofrer

Sou saudade dolorida
Que na minha alma cansada
Me deixa assim tão perdida
À espera da tua alvorada

Sou a saudade um adeus
Que num dia de Verão
Deixou preso nos olhos teus
O meu louco coração

Saudade de te amar
De te ver p'ra concluir
Que só a posso matar
Quando nela atravessar
A espada do teu sentir.