skip to main |
skip to sidebar
Perdi-me na tua doçura
Nos teus lábios doce mel
E dos meus sonhos de papel
Eu fiz, carinhos ternura
Dos teus cabelos fiz laços
P'ra te enlaçar com ternura
Naveguei nos teus abraços
E desfiz a amargura
Deixei á porta esquecida
A dor e a minha saudade
E na minha alma perdida
Encontrei minha verdade
Cheguei até a esquecer
Que os olhos sabem chorar
Que alguém me fez sofrer
E até que deixei de amar
E neste estranho ensejo
Em contradição eu te espero
Quero-te e não te desejo
Desejo-te e não te quero.
Nas ondas da madrugada
Velejei até mais não
Numa saudade ancorada
Dentro do meu coração
Vesti as ondas do mar
Com vestes do meu lamento
Naveguei no firmamento
Até o Sol acordar
Em sonhos feitos espuma
Eu lavei o meu sentir
Fiz confidências à bruma
Para mais ninguém ouvir
E na fragancia do mar
Dissolvi minha amargura
Lavei também o olhar
No sal da minha ternura
Mas se á noite eu chegar
Sem mágoas e com ardor
Á praia te vou esperar
Pois quero ver o luar
Nos teus braços meu amor.
Cantei um fado p'ra te dedicar
Mas sabia que logo à partida
Quando eu começasse a cantar
Tu estarias logo de saída
Com mágoa vou vivendo o dia a dia
A pensar sempre em ti, mas que tormento
Na alma já não entra a alegria
Saudades nem sequer as quer o vento
E assim vou vivendo na ilusão
Mesmo a chorar a alma ainda canta
E as mágoas que padece o coração
Á noitinha sobem à garganta
No rio a minha alma vou lavar
Não quero pensar em ti assim mais não
E com os enleios do meu penar
Eu vou amarrar meu coração
As cordas à viola eu roubei
Á guitarra tirei o seu trinar
E nunca mais o fado cantarei
Se não estiveres amor p'ra me escutar.
Tempo que habitas em mim
Só p'ra me fazeres esperar
Corróis-me a alma, no fim
Meu tempo não vais matar
Cantas nas horas sombrias
De manhã e ao entardecer
Choras pelas alegrias
Só p'ra me fazeres sofrer
Passas por mim passo a passo
Distante e sem me olhar
Tens medo que meu desembaraço
Te obrigue tempo a passar
Ficas parado no tempo
A sentir a brisa no prado
Não vês que é meu tormento
Estares tanto tempo parado
Mas tenho que te apressar
Porque o que quero e anseio
É tão grande que receio
A tempo eu não chegar
Anda, corre com fulgor
Quero-te breve e assim
Para eu vêr o meu amor
Depois de passares por mim.
Amei demais a saudade
Dei-lhe meu porto d'abrigo
E agora por maldade
Ela anda sempre comigo
Quero demais esquecer
A dor e o sofrimento
Mas ela insiste em fazer
Da minha alma tormento
Pedi ao Sol e ao vento
Dei-a ao mar por caridade
Mas o mar não quer saudade
Já tem saudades da lua
Deitei-a ás pedras da rua
Zangada me fez lembrar
Que saudade é p'ra guardar
Não precisa deitar fora
Partiu, foi borda fora
Em águas, foi navegar
Me disse que ia voltar
Não era grande a demora
E antes de se ir embora
Me pediu com muito ardor
P'ra quando o navio chegar
Á praia a fosse esperar
Pois me traz o meu amor.